Tuesday, December 22, 2009

parábola



Havia na casa de banho da minha avó uma torneira de banheira que se apaixonou. O alvo do seu amor era uma simples torneira de bidé, a quem a ideia de despertar o interesse da torneira da banheira causava tal entusiasmo que, por vezes, até entupia.

Numa primaveril manhã, iniciaram o namoro; conversavam e olhavam-se, por vezes suspiravam ruidosamente; mas nada mais poderiam ambicionar (fazer amor, por exemplo), pois, como se sabe, as torneiras estão fixas às paredes. E isso entristecia-as um pouco, arrefecia os ânimos amorosos, alimentava fantasias.

Até que, certo dia, houve um tremor de terra; a casa foi destruída e abandonada. Mas no meio dos escombros, as torneiras, finalmente juntas (miraculosamente juntas), concretizavam por fim o seu amor. E, claro: foram felizes para sempre.

Paulo Kellerman

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