Tuesday, December 29, 2009

O Silêncio




Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade

Friday, December 25, 2009

poesia ouvida

De volta está a poesia ouvida, desta feita com António Franco Alexandre.
Procurarei voltar a ser regular: uma poesia por semana.

Ouvir aqui.

Tuesday, December 22, 2009

parábola



Havia na casa de banho da minha avó uma torneira de banheira que se apaixonou. O alvo do seu amor era uma simples torneira de bidé, a quem a ideia de despertar o interesse da torneira da banheira causava tal entusiasmo que, por vezes, até entupia.

Numa primaveril manhã, iniciaram o namoro; conversavam e olhavam-se, por vezes suspiravam ruidosamente; mas nada mais poderiam ambicionar (fazer amor, por exemplo), pois, como se sabe, as torneiras estão fixas às paredes. E isso entristecia-as um pouco, arrefecia os ânimos amorosos, alimentava fantasias.

Até que, certo dia, houve um tremor de terra; a casa foi destruída e abandonada. Mas no meio dos escombros, as torneiras, finalmente juntas (miraculosamente juntas), concretizavam por fim o seu amor. E, claro: foram felizes para sempre.

Paulo Kellerman

Thursday, December 17, 2009

quando te vi senti um puro tremor de primavera



Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume

No meu sangue vogavam levemente
anénomas estrelas barcarolas

O silêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas

Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda

Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo

E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo

Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

António Ramos Rosa

Wednesday, December 16, 2009

as palavras aproximam



As palavras aproximam:
prendem-soltam
são montanhas de espuma
que se faz-desfaz
na areia da fala

Soltam freios
abrem clareiras no medo
fazem pausa na aflição

Ou então não:
matam
afogam
separam definitivamente

Amando muito muito
ficamos sem palavras

Ana Hatherly

Tuesday, December 15, 2009

Friday, December 11, 2009

um dia em cheio

21.30H:



23.00H:


Memorável!

E há ainda a entrevista que saiu hoje no Jornal Região de Leiria!

Saturday, December 05, 2009

Thursday, December 03, 2009

Tuesday, December 01, 2009

viagem

É por teus olhos meigos que tenho andado nestes felizes dias.
Em tuas mãos têm passado todos os meus mais recentes gritos e silêncios.
Por meus poros se têm escapado todas as tuas carícias e orvalhos, todos os sulcos da tua pele.

Em ti estremeci à meia-luz, com o vento acariciei teus cabelos silenciosos e em teus lábios me deti.